238 dias se passaram. Foram dias fáceis, difíceis, alguns de surtos outros de plena calma.
O que está batendo agora é olhar o guarda roupa e ver que muitas peças jamais fizeram parte do meu gosto. E como vieram parar ali? Alguma liquidação, um dia ruim, necessidade de atenção nem que fosse da vendedora, vontade de torrar todo o dinheiro para não guardar nada, baixa autoestima em que qualquer coisa servia, demonstração de poder.
Poderia escrever o dia todo sobre motivações para compras, mas o ponto não é esse. A pergunta que não quer calar é "do que realmente gosto?".
Quais as peças que merecem ficar e quais devem ser descartadas e... muitos "es"... e se eu descartar mais peças ainda, além daquelas que já foram embora, será que vou me arrepender depois?
Alguns itens de decoração também estão me "olhando" de forma esquisita, será que também não fazem mais parte de mim ou nunca fizeram. Afinal de contas do que gosto realmente?
Sinto falta das minhas revistas de moda que foram doadas para outras pessoas. Onde andarão minhas revistas de moda? Agora somente sobraram aquelas de decoração e não estou em momento de querer olhar nada que se refira a decoração, talvez depois de julho após terminar o "ano sem compras".
Consciente de que as revistas somente tem propagandas, tanto de moda quanto àquelas de decoração, mas eu as adorava. As primeiras não tenho mais e as outras me falta vontade de ficar folheando.
Nem organização sobrou para eu me distrair. Tudo milimetricamente arrumado, todos os excessos retirados, tudo que eu achei que não me servia mais (será que não servia mesmo?) foi retirado, a sensação que tenho é que os ambientes ficaram "assépticos" sem nenhum germe de bagunça.
Tudo esquisito, vida esquisita, propósito de ficar sem compras esquisito.
O início levou à organizar a casa, coisa que fiz a vida inteira de maneira compulsiva e, sempre comprando mais coisas, nunca conseguia terminar a arrumação. Agora terminei!
Não sei sinceramente o que fazer com o que tempo que me sobra. É difícil viver sem estar colocando e tirando coisas de caixas e dizendo "não posso, não, tenho coisas para arrumar". Perdi minhas desculpas e a forma como ocupava meu tempo.
Estou começando a entrar naquelas divagações filosóficas, tipo "O Mundo de Sofia". Quem sou eu, de onde vem o mundo em que vivo, onde vou parar com essa experiência do ano sem compras?
Parece simples ficar sem comprar, mas a experiência é pessoal, interior, intensa e leva a alguns lugares da mente que jamais visitaríamos por escolha própria. Algumas lembranças tem aflorado sem que tenham sido chamadas, talvez despertadas pela falta do que fazer em termos de ocupar a mente enquanto não estou trabalhando.
Idéias de novos projetos, novas vontades e tudo fica pairando sem um ato objetivo que traga uma nova ideia ao mundo real.
Eu sei que deveria me empenhar em perder quatro quilos, mexer no jardim, cozinhar (aqui penso que vou comer mais), ler, ter uma reação definitiva contra o tabagismo (tentativas frustadas apenas), escrever artigos jurídicos acessíveis e sem firulas. Tudo isso eu sei! Cadê o empenho? Ainda não sei onde está!!!
Quem sabe pensando chegue à alguma atitude!!!
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