quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pavor da própria existência...

Alguns dias são mais difíceis, principalmente aqueles onde a vida nos mostra sua própria finitude e já não sabemos mais se choramos pelo outro ou pelo nosso próprio destino.

Um grande amigo, daquele de todas as horas e para as todas as situações. Anos sem encontrar. Notícias do seu estado de saúde: aposentou e pouco tempo depois teve um AVC. Cadeira de rodas e nesse estado vi uma única vez. E hoje novamente o vi, já caminhando, apoiado em uma bengala, lado esquerdo paralisado, rosto quase sem expressão. Saí correndo e não consegui nem cumprimentar. 

Covardia? Talvez, mas fiquei imaginando como ele se sentiria ao me ver chorando de forma tão descontrolada. Uma tristeza imensa, uma dor tão grande que já não sabia se chorava por mim ou por ele.

Antes de seguir a profissão que o levou à aposentadoria, era profissional da noite. Cantava em bares, cantava na noite, de uma alegria que parecia infinita e que parecia que ia acompanhá-lo pelo resto da existência terrena.

E ao vê-lo de longe, apoiado na bengala e amparado por outra pessoa, senti um pesar inexplicável ao saber que jamais ouviria "My Way" ou "New York, New York" cantadas por ele.

E ao vê-lo de longe, apoiado na bengala e amparado por outra pessoa, senti uma tristeza profunda causada pela visão da realidade de muitos que deram a vida pelo trabalho e, quando poderiam finalmente sei lá fazer o que, estão no mesmo estado.

E ao vê-lo de longe, apoiado na bengala e amparado por outra pessoa, senti um pavor imenso do possível futuro destino meu, de outras pessoas que me são próximas. Senti um pavor da própria existência e um medo quase incontrolável.

E ao vê-lo de longe... eu ouvia o passado... e ele cantando "My Way".

Antes de tudo isso acontecer ... encontrei com outra pessoa e naquele encontro, enquanto falava ele com outras pessoas,  também com a bengala ao lado da cadeira, pude perceber as mãos trêmulas, a face branca parafina, um certo olhar perdido parece que dizendo "eu queria tanto isso e minha saúde está dessa forma!".

Saúde, idade, velhice... como envelhecer dignamente? Como evitar tudo isso? 

Realmente preciso mudar muito mais coisas do que eu havia imaginado...


10 comentários:

  1. Eu só não entendi o porquê do título...

    A vida é uma caixa de surpresas, umas boas e outras nem tanto. Tem outras ainda pavorosas. Mas é assim. A gente tem que aprender a lidar com ela.

    Tem muita gente que eu conheço que após se aposentar entram em depressão, ficam mais pré-dispostos a doenças, porque trabalhando a pessoa tem mais contato com outras pessoas, possui um poder aquisitivo melhor, se sente melhor. O jeito é saber dosar entre trabalho e lazer e jamais ficar numa inatividade, isolados.

    Esse teu amigo iria ficar feliz em te ver e acho que chateado acaso te avistasse sem que fosse cumprimentá-lo. E amigos são assim mesmo, nas horas boas e nas ruins.



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    1. Adriana, essa falta de saúde repentina (ou até previsível, mas que acontece em um episódio, tipo AVC) me deixa meio em pânico.
      Estava aqui tentando planejar uma aposentadoria... rs... acho melhor continuar trabalhando, movimenta a vida e adoro o que faço!

      Eu não conseguiria falar com ele... infelizmente!

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  2. OI Ziula. É tão difícil ver uma pessoa do nosso convívio e que amamos numa situação tão vulnerável. Lembro quando vi meu pai na UTI de um hospital, um homem tão forte, não tenho lembranças dele faltar um dia sequer ao trabalho por causa de doença., vulnerável e dependente. Entendo a dor que vc sentiu ao ver seu amigo. Mas depois que você chorar tudo o que vc tem para chorar, vá conversar com ele, às vezes não precisa falar muito, apenas ficar ao seu lado e mostrar que ele é importante para vc. Nestas situações entramos em contato com a nossa própria vulnerabilidade e a certeza que nossa vida pode mudar de uma hora para outra. E se rolar umas lágrimas não se preocupe ou ele te consola ou ele perceberá o quanto vc o ama.

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    1. É muito difícil encontrar esse amigo que fica mais recluso na própria casa... então, só posso mandar energias positivas e considerando o tanto que o conheço sei que ele acharia que eu estava chorando de dó... triste!!!

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  3. Temos que aproveitar enquanto é possível da forma que for possível. Ficar adiando à espera de uma grande mudança ou das condições ideais às vezes pode ser um tiro pela culatra. De repente o tempo passa e não temos mais como realizar as coisas pretendidas. Lembro de um parente que tinha me dito que só sairia de casa para casar quando a mãe recebesse um aumento de pensão x e como ela ficou horrorizada quando disse: "então você espera ter uns 70 anos para sair de casa". Hoje a pessoa acha que dei uma grande ajuda.

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    1. Gabriela, chega em um ponto que é preciso fazer alguma coisa... estou tomando algumas atitudes que espero me tragam mais qualidade de vida e mais felicidade.
      O tempo simplesmente passa voando...

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  4. Li o post e fiquei pensando que não sabemos e pouco temos controle sobre o futuro, por mais q seja planejado, é bom viver o agora.
    Planejar e pensar no futuro é necessário, essencial, em termos materiais, mas o viver msm, o cada segundo q se aproveita, só do momento presente q sabemos, o futuro a Deus pertence como diz o velho ditado.
    Bjssss

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    1. Viver o hoje da melhor forma possível, talvez esse seja o segredo!

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  5. Oi Ziula. Te entendo tanto do meu coração. Gezi

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