quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A dor que vem dos outros!

- Almas penadas, encarnadas ou desencarnadas, por vezes vem me assombrar!

- Não existe vida após a morte e não aparece ninguém não.

- Está bem! A energia negativa que alguns enviam para o Universo, até por conta do próprio sofrimento, volta em mim e aperta meu peito de tal forma que até dói.

- Cada qual carrega a cruz da sua amagura.

- Ok também! O sofrimento que sinto em outras pessoas toma conta da minha mente em diversos momentos. Sou invadida por um sentimento de piedade, de empatia, de sei lá o que. Lágrimas quentes caem. Meu corpo todo dói. A vida poderia ser menos sofrida!

John Lennon da Silva. Alguém quer um nome mais brasileiro? Dezoito anos. Quais os sonhos desse menino? Tinha namorada? E a música sertaneja amanhecia em seus ouvidos como a luz desponta no horizonte às cinco horas da manhã? Nada sei e nada saberei, exceto pelo olhar sofrido de seus pais que o perderam de forma trágica e de uma maneira que poderia ter sido evitada. Infelizmente tenho acesso à foto do dia fatídico, está lá perdida entre os muitos documentos do processo. Tinha a incumbência de ligar o "cavalinho" mecânico do treminhão, caminhão que transporta cana, aos semi-reboques que são em número de três. O caminhão veio mais rápido e prensou nosso menino no engate do semi-reboque, prensou na altura do peito. Ali ficou o trabalhador esperando a rápida morte chegar.

E aquele malandro de terno branco sambando ao som de antiga música, talvez Lupicínio Rodrigues ou mais moderna como aquelas lindas de escola de samba. Pele clara, cabelo claro, bigode e a fisionomia repleta de alguma coisa que jamais vou experimentar, mas que lhe fazia muito bem. Mais um trabalhador rural e mais um trator. O pneu estoura enquanto ele conserta. Pedaços vem em direção do seu rosto praticamente estraçalhando tudo que estava na frente. Sobreviveu? Sim, nosso amigo está vivo e nessa hora ouço o som de um disco riscado, um LP muito velho tocando em um gramofone ou mesmo o som de uma fita cassete quando arrebenta. Os dois olhos foram arrancados, parte do escalpo. A face se transformou em algo disforme. Esposa que largou tudo para atender o amado e, pressionada pelo sofrimento, encontrou a depressão. Abraçados seguem pela vida carregando as toneladas que representam as consequências da malsinada tragédia.

Árvores, árvores e mais árvores. Motosserras usadas sem preparo e cai uma árvore aqui e outra ali. Passam os dias. Floresta caindo. Homens cumprindo com suas obrigações e lá pelas tantas a árvore quando cai deixa debaixo de si um corpo inerte. Quatorze anos preso em uma cama. Tetraplégico. Família mobilizada nos cuidados. Processo na Justiça Comum durante quase todo esse tempo e onde nem sequer perícia tinha sido realizada. Mudança de competência e processo remetido para a Justiça do Trabalho. Trabalhador havia falecido pouco antes dessa remessa. E a família ainda mobilizada em busca de uma reparação que certamente jamais poderá compensar o sofrimento e a perda.

Meus dias eram mais fáceis quando tinha apenas uma hora extra aqui ou outra ali, um aviso prévio não concedido, um ambiente insalubre. Certo! Havia situações preocupantes, mas nenhuma comparada com as atuais onde sou obrigada a conviver e analisar acidentes que poderiam ter sido evitados, mortes que poderiam não ter ocorrido, famílias que estariam voltadas apenas para a felicidade e mesmo que fosse somente para a sobrevivência nem isso tiveram chance de experimentar assoladas que foram pela desgraça.

O sofrimento que sinto fica latente na maior parte do tempo, está lá no fundo, uma cutucada aqui e outra ali, nada preocupante, mas em dias como hoje me invade de tal forma que gritar até perder a voz seria pouco para colocá-lo de volta no universo. Isso dói!

10 comentários:

  1. Bom dia Ziula

    Sinto muito! Afinal, é também nosso o sofrimento do Mundo.
    Somos todos um!
    Coragem, amiga. Certamente que o seu trabalho e o seu empenhamento faz diferença na vida de algumas pessoas.
    Beijinho

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ana Margarida, é sempre muito difícil, entretanto por vezes quando vemos bons resultados e a pacificação desses conflitos o sofrimento arrefece um pouco.

      Beijos

      Excluir
  2. Ziula, não sei sua religião ou em que acredita, mas como venho todos os dias aqui sinto a liberdade de poder lhe indicar algo que pode ajudar a entender um pouco melhor e talvez fazer com que você possa cumprir seu trabalho de forma que não carregue essas dores, que não fazem bem a ninguém e que, se vc continuar dessa maneira, também não conseguirá ajudar a ninguém. Procure o Racionalismo Cristão, que não é uma religião e sim uma filosofia, tenho certeza que em muitos livros ou até mesmo nas sessões públicas deles você encontrará um entendimento para isso. Com esclarecimento e conhecimento fica mais fácil seguirmos em frente.
    O site deles é: http://racionalismocristao.org/ e aqui vc pode verificar se há uma casa em que possa conhecer mais de perto: http://racionalismocristao.org/casas.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Li, adorei a dica, vou acessar o site e depois te conto o resultado.

      Obrigada!

      Excluir
  3. Nossa, que melancolia!
    Lembra que te contei do meu choro diante do espelho quando fiz aniversário?
    Me veio tanta coisa ruim na cabeça. Inclusive sobre o mundo. Desejei, naquela hora, ser Ajudante de Deus. Pode???
    Me senti tão prá baixo, tão insignificante, que só as lágrimas testemunharam.

    Também passou, como tudo passa.
    E a vida voltou a ter cor. A cor que você pinta.

    Vou te contar uma coisa. Tem um bendito horário do dia, em que a melancolia quer me abraçar. Se eu deixar a "porta" aberta, ela me leva a uma tristeza profunda.
    Isso ocorre por volta das 17 e 18h00. E há pouco tempo, descobri a razão.

    Este é o horário da verdadeira solidão. O último horário para se marcar um enterro, é às 17h00. E às 18h00, tudo tem que estar encerrando. Os parentes viram as costas e vão embora. Os coveiros afoitos, pegam as mochilas e vão descansar de mais um dia de trabalho. E o velado (rico, pobre, bonito, feio, velho, jovem, bom ou mau), ficará alí sózinho, com a escuridão, com o silêncio, com as corujas e com os morcegos.
    Ninguém, absolutamente ninguém, pode fazer mais nada. E quando chove, bem no dia do enterro, aí eu choro mais ainda. Pois costumo dizer, que o céu está chorando. Se eu pudesse escolher, escolheria a chuva no dia em que eu fosse.

    E, os vivos, têm que ir embora do trabalho quando termina o expediente. Muitos não gostam de voltar para casa. Os colegas se dirigem cada um para sua casa, enquanto alguns procuram um bar, para diminuir a solidão até o dia seguinte.

    Pois é, podemos ser melancólicas sempre que desejarmos.
    Mas isso não nos faz bem. Não nos enobrece e não agrada a Deus.
    Xô tristeza! Deixe-me em paz!

    Quero sorriso de criança brincando, a paz de um pássaro voando.

    Fique bem.
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que todos tem os dias de melancolia! E dói e incomoda e depois seguimos em frente na tentativa de dar sempre o nosso melhor para tentar ao menos minimalizar nosso próprio sofrimento e o sofrimento dos outros.
      Beijos

      Excluir
  4. Bem Ziula... o seu trabalho é árduo e necessário. Você está ajudando as pessoas. Há razões outras que nós não alcançamos, mas acho verdadeiramente que existem. Tanto para os acontecimentos, para as pessoas envolvidas, para o sofrimento e para a sua intervenção nestes casos.
    Que Deus e Nossa Senhora estejam sempre com você!
    beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Andreia, tudo tem sua causa e estamos nos lugares onde devemos estar... esses sentimentos afloram e depois ficam guardados para que possa trabalhar.
      Amém!

      Beijos

      Excluir
  5. Essas questões que envolvem acidentes de trabalho são bem pesadas mesmo. Eu até hoje a pior que vi foi um cara que trabalhava em um determinado restaurante escorregar e cair com o braço dentro de uma daquelas panelas industriais. Quer dizer, não vi ao vivo, vi depois. E sempre que passava pelo corredor da 30ª (exclusiva de acidente do trabalho) ficava chocada.

    Às vezes é uma fatalidade mesmo, outras tantas uma irresponsabilidade, quer do empregador, quer do empregado. Já ouvi alguns seminários sobre o tema e agora estão falando muito disso para a doméstica, em um, o palestrante em questão disse que teriam que ser adotadas as precauções que se adota em uma empresa e até faz sentido pois não raras vezes nos deparamos com uma mulher nas alturas e ela não está fazendo rapel e sim limpando um vidro. E se cai? Não vai aparecer o superman para salvar, precisamos então ter cuidados.

    No meu prédio, por exemplo, uma vez aconteceu uma coisa que parece mentira, piada. O zelador recebeu visita do primo de outra cidade (que estava desempregado) e a síndica queria pintar algumas partes do prédio (serviços pequenos). Como o zelador tinha outras funções, ela ofereceu para esse primo dele que estava por lá (casinha do zelador no prédio) pintar e receber determinado valor. Pagou a entrada, no primeiro dia não é que o cara me sai pra “noitada”, bebe umas e outras, fica borracho e é atropelado? No primeiro dia que começou a pintar. E a sorte é que não aconteceu nada mais grave, entretanto tivemos toda essa despesa do socorro e tal, além do susto.

    E às vezes as medidas protetivas não ignoradas por completo. É tão difícil, por exemplo, conscientizar uma pessoa que ela deve usar capacete, deve usar uma luva, deve usar determinado calçado, tem pessoas que simplesmente acham que não precisam, assim como tem empresas que só pensando no lucro, não tomam as medidas que devem tomar, é bem complicado. E no lidar com máquinas então, com veículos. Complicadíssimo.

    Eu acho que de uns tempos pra cá essas medidas protetivas ao trabalho estão melhorando, claro que ainda não ao ideal se é que um dia chegaremos ao ideal, mas é uma coisa que tem que ser em conjunto, fiscais, empregador, empregado, todos falando a mesma língua a respeito das medidas protetivas. Seria o ideal.

    Agora com o que já aconteceu é pesado mesmo e ter a incumbência de lidar com casos assim é admirável. É o que sempre pensei no caso da 30ª lá e renovo agora por aí. Situações complicadas mas em boas mãos. Quem sabe um dia isso fique reduzido ao máximo e os acidentes passem a ser exceções e bem leves?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Adriana, é um tema bastante espinhoso...

      É preciso prevenção, instrução, treinamento, equipamentos... como você diz, quem sabe um dia a gente chegue em uma situação confortável!

      Excluir