quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Relatório de viagem ... ou ... como estou orgulhosa de mim mesma ... ou ... viajar sem usar cartão de crédito ...





Dez dias sem usar cartão de crédito, nem eu acredito !!!

Superei todas as expectativas que tinha em relação ao meu poder de abstinência de consumo e o próximo passo será parar de fumar, pois se posso controlar estes aspectos, posso controlar também meu vício ou doença - tabagismo. Talvez até consulte um pneumologista, mas isto é matéria para outro post.

Foi impossível viajar para outro país sem qualquer compra, mesmo porque temos sempre uma certa saudade dos lugares onde andamos e para aplacá-la podemos trazer um pedacinho de cada canto para nosso dia a dia, mas pode ser um "pedacinho" mesmo, uma pequenina coisa de pouco valor financeiro ou uma peça para ser usada quando queremos nos sentir glamorosas.

Assim, poucas coisas, todas dentro do limite estabelecido para a viagem, que não foi ultrapassado, e sem colocar a mão no cartão de crédito. Isto me deixa feliz porque ao receber a fatura não haverá todas aquelas compras que normalmente eu sequer lembrava a que se referiam e me traziam somente ansiedade.

Fiquei em dúvida com uma peça de artesanato, feita de madeira, representando um casal dançando, estilizado e parecendo um quebra-cabeça. Passei por ela na cidade de Cusco, depois no aeroporto e comentei com uma turista que prontamente respondeu "se está em dúvida, não leve". Novamente em Lima estava o casal, muito colorido, olhei e deixei por lá mesmo, isto porque fiz a pergunta "como me livro disto um dia?" e cheguei à conclusão de que seria difícil incorporar à decoração e muito mais deixar de tê-la junto à mim após realizar a compra.

Simplificar, não ter coisas desnecessárias, encher sua cabeça de lembranças boas e das sensações, sabores, sentimentos e cheiros dos lugares onde passamos, isto é o que importa, ser feliz e ter um referencial do que nos trouxe felicidade. Buscar sentimentos bons para utilizar em horas difíceis, guardar na alma torna o momento eterno, sem que precisemos de um objeto.

Como viajei sozinha e preocupada apenas com meu aprimoramento pessoal, incluindo maior respeito por mim mesma ao usar racionalmente os recursos que me são disponibilizados, devagar minha cabeça começou a esvaziar e entrei em estado quase meditativo, sem barulho interno, sem pensamentos que se enrolam uns nos outros e que não conseguimos controlar no cotidiano.

Vejo que a mente se aquieta quando retirada a ansiedade por consumo e a necessidade quase patológica de consumir. A atenção termina por se voltr às sensações, ao prazer visual, à busca de novos sabores e valorização do local onde nos encontramos.

Em outras viagens, antes do ano sem compras, passava mais tempo em shoppings e lojas do que realmente desfrutando do passeio, pois até em museus há o que comprar.

Uma situação que me fez refletir muito foi aquela da compra de presentes de Natal e aniversário para parentes e amigos. Se estou controlando meu consumismo, se não me presenteio mais diariamente, se não busco a felicidade nas coisas, porque abrir exceção para o prazer por coisas que é despertado quando outras pessoas ganham presentes? Porque estimular a necessidade por objetos nos outros?

Pois bem. Nada de compra de presentes de Natal ou aniversário! Como fica o exemplo que pretendo dar para meus filhos quando digo que não estou mais comprando e dou milhões de coisas para as pessoas? Aqui, entretanto, cabe um grande parênteses - e é justamente em relação aos filhos!

É certo que, após dez dias fora de casa, trouxesse chocolates importados e canecas para serem usadas no café da manhã. Presentes de coração e que demonstram carinho, sem excesso de gastos financeiros, somente para eles, pois não vejo muito sentido em viajar e trazer presentes para todos os colegas de trabalho, parentes e amigos, pois o momento é meu, para ser desfrutado de forma que me traga prazer e não preocupação com as pessoas que convivo quando na minha cidade.

Lembrei de uma situação engraçada. Quando viajava para qualquer lugar comprava souvenirs para todos do meu trabalho, lembranças que serviriam somente para mim iam parar na mesa de trabalho ou na casa de quem sequer conheceu o lugar. Um dia, uma das colegas falou que já havia montado em casa uma prateleira chamada "as viagens da doutora". Nossa! Foi como se tivesse levado um soco! E neste momento me dei conta de que momentos íntimos, pessoais, não fazem sentido para os outros e parei de trazer estas lembrancinhas de viagem. Isto aconteceu há muito tempo e hoje somente faço comentários quando perguntada e não mais interfiro na "decoração" da casa de outras pessoas.

Outra questão a ser enfrentada em viagens é o artesanato. No primeiro dia ficamos deslumbrados e quando não fazemos compras neste dia, passamos a observar que as mesmas peças e objetos se repetem em toda a zona turística, com pequenas variações de preços e cores. Também atentamos para a baixa qualidade dos produtos oferecidos que pode passar despercebida no contexto das feirinhas, mas não escapa desta análise quando convivemos com o que trouxemos na mala.

Desta forma, pode-se concluir que vale a pena trazer uma única peça de valor maior, de alta qualidade, a trazer muitas peças baratas de qualidade duvidosa, até porque estas últimas irão para a doação ou lixo antes mesmo da próxima viagem.

Optei por um xale de baby alpaca, feito à mão, todo bordado, que somente havia em uma loja em Cusco, com valor superior àqueles das feirinhas e beleza incomparável.

Este xale é uma peça que poderei usar a vida toda e até deixar de herança para minha filha, ao passo que via turistas comprando por valores módicos: blusas, xales, gorros e outras peças vendidas como baby alpaca e que não passavam de peças de baixa qualidade, muitas vezes sem qualquer traço de lã de alpaca, que encolhem na primeira lavagem e não tem aparência tão bonita, nem mesmo quando novas.

O free shop foi uma experiência a parte. Toda vez que passava em outras viagens comprava todos os cremes em promoção, muitos perfumes e maquiagem. Qual o resultado? Cremes aos quais minha pele não se adaptava, perfumes e maquiagem que excediam a data de validade ou não eram usados. Também ocorria de comprar perfumes para presentes, sem me dar conta de que excediam os valores que eu tinha mente para gastar na alegria dos outros, o que depois acarretava as consequências no cartão de crédito, sendo as principais a ansiedade e o descontentamento com os gastos, além do malabarismo para manter as contas em dia.

Desta vez, muitos chocolates - item do qual não escapo nem no dia a dia, porque sempre tem algum moleque no meu quarto perguntando se tenho algum guardado!

Também comprei creme para os olhos - o meu estava terminando, hidratante para o rosto - o que usava já estava muito além da validade, além de uma loção tônica e alguns hidratantes da Victoria's Secret que durarão até a próxima viagem, tudo sem ultrapassar os dez itens permitidos. Passei sem excesso de compras, muito abaixo da cota e sem compras desnecessárias, observando que estas compras estão dentre as permitidas no início do desafio, então nem contam como compras de viagem.

Uma última situação que merece destaque é a bagagem. Embora eu viaje com pouca bagagem, sempre sobram roupas limpas e sempre aumenta o número de sacolas durante a viagem. Desta vez foi diferente, levei apenas uma mala pequena e uma frasqueira, tendo sobrado apenas uma blusinha de lã e uma camiseta sem usar, isto porque quis comprar uma camiseta de Nasca e a usei para voltar para o Brasil. Além disto, voltei exatamente com a mala pequena e uma frasqueira, nada mais! Dois rapazes que fizeram o chek in no aeroporto no mesmo momento até observaram e elogiaram, dizendo que queriam aprender para fazer igual, isto porque cada qual portava uma mala grande cheia e pesada.


Bem, este post está ficando muito longo e melhor ficar por aqui, reconhecendo algumas contradições ao longo mesmo, justificadas por este início de caminho, sempre na busca de uma melhor relação com todos os aspectos da vida.







8 comentários:

  1. Ziula, eu já tinha lido o seu relatório e tinha colocado um comentário super bacan aqui mas tive um problema com a minha net e ele foi apagado sem eu enviar. Como eu estava exausta ontem à noite resolvi passar pro aqui depois, mas acho possível reproduizr o que eu escrevi.

    Você é um ser humano que só falta levitar.. uau!!! Adorei que vc não vai dar presentes! A minha ideia inicial era fabricar meus próprios presentes como a LU estava tentando fazer, mas admiti pra mim mesma que isso não ia dar certo e resolvi comprar produtos ecolgicamente corretos. Outra coisa que eu tô fazneod é tentar comprar coisas úteis, assim além de um presente a pessoa poupa dinheiro que ia gastar. Confrsso, n9o entato, que acho o seu jeito mais legal, mas impossível pra mim.

    Parabéns pela resistência, viagem é dureza nessa horas e você resistiu bravamente!!!!

    Grande abraço e coma seus chocolates com calma pra durar bastante!!!

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  2. Escondidos os chocolates! Tem aquela frase batida que diz: a virtude está no meio e é esta moderação que todas nós estamos procurando, apesar da radicalização do ano sem compras.

    Está sendo uma experiência fantástica e que está me fazendo aproximar de pessoas maravilhosas como vc Marina, a Lu, dentre outras.

    Além disto, a viagem está se tornando interna e os frutos certamente serão deliciosas.

    Um forte abraço para você e parabéns por dispensar inclusive alguns quilos, para mim é muito importante sequer ganhá-los e não por estética! Saúde é o mais importante, seja física, seja mental!

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  3. Puxa, conheci faz pouco tempo seu blog, mas achei a proposta ótima, sempre fui muito consumista e também tenho tentado frear esse ímpeto/hábito. Em um cenário onde o consumir é tentação diária, é muito importante ver alguém fazendo diferente. É inspirador ler textos como os seus, parabéns!

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    1. Cláudia, obrigada pela visita... estava hoje de manhã comentando com um colega como as pessoas se espantam e algumas até criticam a ausência de consumo ou um projeto como o ano sem compras... mas não tem nenhuma preocupação com o que gastam em coisas necessárias, por vezes até entrando no vermelho.
      Na realidade, o blog me ajudou muito nesse desafio e com pessoas como você, apoiando, continua ajudando...

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  4. Adorei o post!!! Me senti liberta na minha última viagem na qual passei pelo free shop apenas com um hidratante para o rosto, alguns chocolates e uma garrafa de whisky (que adoro). Me orgulhei de mim e mais ainda da irrelevância que aquele mundo (free shop) passou a ter. Bom demais! Beijos e obrigada pela linkagem do Minimalismo na Prática! =*

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    1. Graziella, fui ler novamente a postagem e como ficou longa... rs...

      Obrigada pela paciência da leitura!

      Adorei a expressão "irrelevância que aquele mundo (free shop) passou a ter"... é impressionante como alteramos nossa percepção. Houve ocasiões em que eu ficava mais ansiosa pelas compras no free shop do que pela viagem propriamente dita e hoje em dia esse local nada me diz...

      Beijos

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  5. Ziula, encontrei o seu blog através do "Um ano sem compras".
    Estou adorando as suas dicas, os seus relatos.
    Eu a conheci em boa hora, pois queria mudar o meu modo de viver, sem dividas, sem consumismo e com mais sensatez. E vc sabe se comunicar muito bem. Quando leio os seus posts é como se estivesse conversando com uma amiga.
    Identifico-me muito com as suas histórias.
    Bjs

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    1. A satisfação é imensa quando vencemos nossos impulsos, nossos desejos sem sentido. Venha sempre aqui e vamos caminhando para a mudança... não é fácil, mas compensa SEMPRE.

      Beijos

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