segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Crianças e organização

Ana Margarida deixou o seguinte comentário:

"Bom dia Ziula
Gosto muito do seu blog e tem ajudado a manter alguma organização em casa. Já fiz uns destralhes razoáveis.
Também estou quase sem comprar.
O meu problema foi transferido para a minha filha de 5 anos.
Não consigo jogar fora os brinquedos dela. Penso que é pouco etico fazê-lo sem que ela concorde. Ela não quer libertar nada. E quando eu ando a destralhar as minhas coisas ela quer ficar com tralhas que eu já não uso.
De facto ela brinca com aquilo tudo. Às vezes vem crianças amigas e brincam com tudo, com os brinquedos, malas e objetos que eram meus. Mas é demais. Tenho a casa cheia de brinquedos e tranqueiras.
Também não consigo parar de comprar coisas para ela, sejam brinquedos ou roupas... Não quero que lhe falte nada!
Temos poucos recursos financeiros e tenho medo de caso não aproveite alguma boa promoção, depois não possa comprar mais tarde. Acontece com brinquedos e com as roupas... Mas se eu não comprar e ela precisar? Afinal cresce muito e a roupa deixa de servir.
Enfim, sei que é o meu medo de escassez. Mas não sei como lidar com a situação do excesso, principalmente de brinquedos.
Ainda ontem tinha 2 brinquedos perto da porta para deitar no lixo antes dela chegar a casa, mas entretanto ela chegou e não quis que eu deitasse os brinquedos no lixo.
Se me puder ajudar agradeço.
Beijinho
"

Para crianças uma única palavra: PACIÊNCIA!

Já devo ter falado por aqui que tenho três filhos: um de trinta anos, uma de dezoito e um de onze anos. Aprendi com essa diferença de idade entre eles que crescem muito rápido. Certo que amadureci muito entre o primeiro e o último. Minha irmã observa abismada "Ziula, como você tem paciëncia!".

Talvez eu não tivesse tanta paciência com o primeiro, mas fui aprendendo e fui ficando meio abismada como crescem rápido, como rapidamente deixam de ser o bebê da casa, como amadurecem e ficam independentes. Então, isso fez que quisesse aproveitar cada minuto da infância, da adolescência e esteja aproveitando cada minuto da vida adulta do mais velho.

Brinquedos não devem ser descartados sem a autorização do proprietário. Crianças criam uma certa afetividade com os brinquedos e o que parece para nós uma tralha ou coisa quebrada, para eles tem muito valor. É estranho, entretanto é fato que funcionam mentalmente de uma forma diferente, menos racional e mais lúdica!

Com o tempo e com a idade desapegam dos brinquedos e elas mesmas pedem para retirar!

Dia desses falei para o Pedro: "seu quarto está cheio de tralhas, dê um jeito de arrumar" e o resultado foram dois enormes olhinhos azuis cheios de lágrimas e a contestação "não são tralhas, é o meu material, NÃO É LIXO!". Só nesse momento vi como pisei na bola e pedi desculpas.

Eram garrafas pet cortadas, pedaços de cano de pvc, potes de sorvete que haviam sido recortados, pedaços de madeira, enfim, uma porção de material para criar coisas incompreensíveis e que para ele eram muito importantes.

Assim ficou até o dia que a diarista pegou uma caixa e colocou tudo dentro! E ele ficou feliz com o quarto organizado.

Penso que devemos ensinar organização e até exigir isso, mas para tanto temos que dar o exemplo. Crianças não aprendem com palavras e sim com as atitudes do pai e mãe.

Quando o Pedro era pequeno eu tinha duas caixas de madeira com rodinhas. Terminou de brincar com os brinquedos grandes e eles voltavam para a caixa pelas mãozinhas dele e com minha ajuda.

Caixas pequenas para os brinquedos menores e o mesmo sistema: terminou de brincar deve guardar, sempre com supervisão e ajuda de um adulto.

O menino é bem organizado, não deixa roupas nem sapatos pela casa, e o que entendi ser bagunça era para ele algo organizado que tinha uma finalidade.

Enquanto o Pedro era pequeno raramente eu comprava um brinquedo. Ele ganhava de terceiros em aniversários ou datas comemorativas e nunca me impus presentear nessas épocas. Havia a festa de aniversário, a folia no Natal, um passeio no Dia das Crianças. Também raramente insistia em comprar algum brinquedo. Ele costumava dizer que não precisava de nada! Hoje já está um pouquinho diferente, acho que é a idade!

Crianças querem atenção e não brinquedos, pelo menos é o que observo. Um caderno velho e uma caixa de lápis de cor ou vidrinhos de tinta. Uma tesoura sem ponta e várias revistas. A criatividade sempre rolou solta e ele sempre inventando alguma coisa.

É claro que brincava com brinquedos, embora brincasse mais com sucata e pinturas.
Em relação às roupas, como já havia dois filhos anteriores, nunca comprei muito também. Ganhava nos aniversários e as compras se restringiam tipo a dois pijamas de inverno, um seca e o outro é usado e vai revezando. Camisetas no mesmo esquema e tudo usado até acabar.

Crianças crescem muito rápido para que façamos investimento em roupas. Algumas poucas peças boas para ocasiões especiais e o restante para brincar não precisa ser muito boa. Perdi muita roupa com meus outros filhos.

Andei comprando para o Pedro roupas maiores em promoção para que ele usasse quando servisse e nunca usou! Foram para doação! Então, limite-se ao essencial e não há necessidade de guardarmos ou comprarmos porque o preço está bom, acredite na infinita bondade do universo que nada deixa faltar quando efetivamente é necessário.

Finalmente, as crianças devem crescer com a noção de prosperidade, de sobra de recursos e para isso nossos pensamentos devem ser positivos. Os recursos podem ser escassos, não importa! São suficientes ao nosso padrão e não precisamos nos queixar, apenas explicar o que é possível e o que não é possível fazer. Quando fizer ou quando comprar simplesmente demonstrar que isso foi feito em razão de termos economizado em coisas supérfluas e desncessárias.

Precisamos dar poder às nossas crianças e isso só é possível com muito amor, atenção e carinho. Crianças que recebem todo esse amor, atenção e carinho tem menos necessidade de brinquedos, roupas ou qualquer outra coisa que possa ser comprada com dinheiro.

Dividir um livrinho de pintura, fazer papel mache, utilizar recicláveis e fazermos isso junto com elas é melhor que qualquer brinquedo da moda.

Ana Margarida, fique tranquila, tudo tem seu tempo! Você já conseguiu controlar suas compras e com certeza vendo suas atitudes sua filha vai ver que cada vez precisa de menos bens materiais, pelo menos com meus filhos está sendo assim, embora eles ainda consumam mais do que estou consumindo. Ops! Tenho novidades quando ao meu consumo, mas isso é matéria para outro post!

Boa sorte!!!

6 comentários:

  1. Concordo que os brinquedos não podem ser descartados ou doados sem a autorização do proprietário, no caso, a criança!

    Se minha mãe pensasse assim à época eu ainda teria meu "mundo feliz". O brinquedo que até hoje queria pra ficar olhando.. kkkk e esse nem relançam. Diz ela que eu quis doar mas não lembro não. Nunca fui simpatizante de doar meus brinquedos. Fazia só se eram condições para o novo se não... ah e na época ficavam ou nas caixas ou em saco de lixo mesmo.. os de uso direto em saco de lixo. Dai rasgavam tudo, uma coisa...

    Hoje vejo organizadores bonitinhos e de bichinhos e tal. Talvez seja até fácil de fazer a criança guardar em organizador bonitinho do gosto dela.

    Mas essa do exemplo é certo, e da atenção também. Mas acho que querem brinquedos sim, só que querem que brinque junto. E se não tiver brinquedos se contentam com alguns improvisos... eu já muito brinquei com o filho da empregada que tínhamos. Até prendedor de roupa era soldado pra ele... e colorir desenhos que pegava do computador então, alegria total dele (e meu cansaço pois logo terminava ou queria me explicar o porquê das cores ou quem era ou coisa assim).

    Mas essas invenções do Pedro são ótimas. Lembro dessa fase e tinha um colega gênio. Fazia cada coisa e levava pra aula pra nos deixar com inveja e ficar achando que ele era o sabichão rs. Boa essa época. Ótima. Aproveita para ver as ideias do teu guri. O nosso lado criativo precisa ser estimulado. A gente precisa dele pra vida adulta depois, vez que outra.

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    1. Como resmunga... é claro que você queria doar!!! rsrsrs
      Sempre tem invenções novas por aqui...

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  2. Agradeço o seu comentário Ziula.
    Eu também penso assim! Mas manter a vontade e a paciência às vezes fica dificil e apetece-me por tudo no lixo.
    Fica também difícil para mim resistir aos pedidos de brinquedos... Ver que outras crianças têm determinado brinquedo que a minha filha quer também... Fica dificil não querer comprar tudo para ela... Não quero que fique com sindroma de escassez como eu!
    Mas é isso... Amor e Atenção! No fundo é o que todos queremos.
    Beijinho
    Ana Margarida

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    1. Ana, tudo tem seu tempo e pode acreditar que sempre fazemos o melhor por nossos filhos...
      Beijos

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  3. Senti vontade de comentar uma cena que vi ontem na CeA do shopping.
    Estava eu fuçando nas araras do setor feminino, quando passou uma mãe com seu filho de uns 3 a 4 anos. O garoto esbarrou num dos cabides de calcinhas e a peça caiu. O garoto na hora fez menção de pegar, mas a mãe não soltava a mãozinha dele. Como quem diz: deixa aí que alguém pega!
    O menino esticou o braço dela tentando alcançar a peça no chão.
    Como ela viu que eu estava olhando, soltou a mão do filho e ele fez o certo.
    Tudo durou apenas alguns segundos, mas serviu de lição.

    Bjs

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    1. Tem criança que educa adulto... rs... o Pedro de vez em quando me chama atenção sobre algumas atitudes... essa geração é maravilhosa...
      Beijos

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