Minha avó Adelina com meus filhos, semana passada!
Escrever por aqui está sendo uma terapia e, como diz aquela propaganda de cartão de crédito, não tem preço!
Venho para contar minhas dificuldades, traumas, experiências, tristezas, alegrias, vitórias, enfim sobre este viver que não é fácil para nenhum ser humano.
Pensei que minha vida era, de certa forma, um mar de rosas, sem grandes preocupações a não ser meus próprios desafios. Família longe, poucos amigos e dois filhos que moram comigo, tudo funcionando perfeitamente, com pouca turbulência.
Claro, existem algumas situações vagando pelo universo, como o retorno de minha filha para casa, e que escapam à minha interferência em respeito ao livre arbítrio dela. Nem todos os desejos que tenho se materializam e esta é a vida.
Tudo andava perfeitamente! E lá vieram as surpresas!
Um pouco mais de convivência com a família e quem tem família - pai, mãe, irmãos, sobrinhos, cunhado, tios, primos, avós - sabe do que estou falando.
Mantive meu desafio de abstência no que se refere aos conselhos. É díficil, embora não impossível. Tornei-me uma ouvinte bem atenta e somente perguntas pontuais ou estímulo à reflexão por parte das outras pessoas. Entretanto, internamente entro em ebulição por não aceitar certas situações, fazer julgamento interno sobre o que acho justo ou injusto, sentimento de ter a solução e, mesmo assim, manter o silêncio.
Considerando que não bastam certos confrontos e tudo tende a piorar em determinado momento veio a notícia: - sua avó está na CTI e tem quatro dias de vida!
Tristeza, desespero por estar longe, sensação de perda sem que ela tenha ocorrido ainda, tentativa de organização do cotidiano para deslocar-me até onde está minha avó.
Notícia no trabalho de que é necessário verificar se avó é parente. Bem, se não é parente, nem preciso ficar triste, deslocar, chorar ou sofrer, né? Olha, não sei de onde as pessoas tiram estas afirmações quando está claro que o outro está sofrendo e sem condições de trabalhar.
Para tranquilizar todos que estão lendo, avó é parente sim, ascendente em segundo grau.
O segundo ponto interessante é poder faltar ao trabalho quando do falecimento, entretanto não se pode deixar de comparecer quando a pessoa está no final da vida. Talvez seja a proibição de despedida! de encontrar a pessoa ainda em condições de dizer o quanto te amou a vida toda! perguntar, como o fez meu avô na noite de sua partida, você ainda está brincando de ser juíza?
Resolvidos todos os percalços, termino por me encontrar na sala de espera da CTI. A moça que atende o telefone para prestar informações sobre os pacientes internados naquele local usa um chavão para todos: - o estado é grave, mas estável!
Grave, mas estável! Está certo, eu sei que o estado de saúde deve ser passado pelo médico, mas ele não aparece e quando o faz minha mãe e minha tia não sabem o horário e também não conseguem explicar o que efetivamente está ocorrendo.
Entro para a visita. A primeira corre dentro da normalidade. Na segunda visita, minha avó tenta tossir e falar, termina toda vermelha e eu correndo para longe dali, desesperada, assustando os demais parentes quando chego na sala de espera totalmente desequilibrada. E, por aí vai!
Todo este caos instalado e, não basta ele - o caos. Situações surreais começam a ocorrer na sala de espera da CTI. Um homem distribuindo dinheiro do paciente para alguns parentes, parece que a pessoa internada ajudava a família e houve tempo/paciência/disposição para se ir ao banco mexer na conta de quem já está naquela situação "grave, mas estável".
Não parou por aí, outros parentes discutindo divisão de bens, prisão de alguém que teria prejudicado o paciente, fazendo propostas para compra de apartamento que pertence ao paciente.
Ou vocês acham que na hora da morte a questão do dinheiro cessa?
E eu ali, pensando em eutanásia. Tenho, ou tinha (?), a convicção de que a vida não pode ser interrompida pelos homens, sendo importante todo o sofrimento que passamos mesmo para morrer, depura nossa alma, enfim todas aquelas argumentações quando se trata dos outros. Ver minha avó sofrendo daquela forma trouxe inúmeros pontos de interrogação.
E eu ali, pensando em como se protege a vida humana e na forma impiedosa como se matam os animais, com a desculpa que eles estão na Terra para servir de alimento para as pessoas.
E eu ali, muito triste. Minha avó! Com quem aprendi sobre organização financeira e da própria casa, controle de despesas, solidariedade, amor, preocupação, tolerência, importância do trabalho, união da família e ajuda ao próximo. Também aprendi com ela algumas coisas que não concordo, mas todas as outras foram tão maiores que destas primeiras nem me lembro.
E eu aqui, pensando até quando o sofrimento dela vai se estender. Já tem 89 anos, nasceu em 04 de fevereiro de 1922 e, desde que meu avô morreu, não quer mais viver, não caminhando mais e tendo grande pesar em não poder costurar, sua paixão.
Pensamentos desencontrados. Questionamento de valores do ser humano. Dor. Desesperança. Esperança. Herança. Vegetarianismo. Revolta. Tristeza. Pesar. Impotência. Desespero. Lágrimas que caem e outras que ficam retidas. Máscaras usadas pelas pessoas. Falsidade. Sentimento não demonstrado. Enfim, morte fim da vida?
Acredito na continuidade da vida após a morte do corpo físico. De que me serve esta crença neste momento?
Fazemos nossas as tuas palavras.
ResponderExcluirBjos Lina e Narinha