sábado, 5 de novembro de 2011

Razões para ficar "UM ANO SEM COMPRAR"


Depois que iniciei o ano sabático procuro no google pessoas que aderiram ao mesmo desafio até para conhecer o que as move e, confesso, para ver até onde aguentam, considerando ter muitas vezes colocado em dúvida meus objetivos com este desafio.

Fiquei surpresa ao encontrar diversas críticas à publicitária Jojo do blog "Um ano sem Zara", sítio que teve grande divulgação em revistas, jornais e até no Fantástico, caso eu não esteja enganada quanto a este último.

Várias pessoas comentaram em algum outro blog ou site sobre frivolidade, falta do que fazer, necessidade de um tanque de roupas para lavar, sobra de numerário que geraria a decisão de ficar sem comprar em contraponto com quem nada pode comprar porque não tem condições, enfim, uma série de comentários desaiorosos sobre o comportamento que passou a adotar Jojo em relação ao consumo, inclusive falando em promoção pessoal decorrente de sua profissão.

Injustas as críticas feitas, pois aquelas criaturas que se encontram sem comprar por determinado período são movidas por razões que escaparam àqueles que olham superficialmente os reais objetivos.

Tenho alguns motivos para ter aderido ao "ano sem compras" e encontrei outros em blogs sobre o mesmo assunto, vejamos:

- desejo de testar os próprios limites;

- busca de um consumo consciente, aproveitando todos os itens que já foram adquiridos;

- demonstração de que é possível conter a ânsia de sair comprando toda e qualquer novidade que apareça, mesmo porque as coleções se sucedem rapidamente nas vitrines;

- preservar o meio ambiente através do reaproveitamento de itens antes abandonados;

- praticar a caridade com o que não lhe serve mais;

- viver de uma forma mais minimalista e organizada, tirando tudo que não se usa e doando/vendendo em brechós;

- utilizar o espaço da casa/apartamento de forma mais racional, tirando tralhas sem utilidade;

- aproveitar melhor o tempo de lazer, excluindo as visitas infindáveis às lojas;

- estabelecer prioridades em termos de consumo,  descobrindo o que realmente é necessário;

- colocar as finanças em dia, sair do vermelho ou, mesmo que não seja o objetivo final, economizar para outras situações mais importantes ao bem estar;

- praticar a criatividade, encontrando outras formas de usar o que tem, fazendo novas combinações;

- contestar o sistema capitalista, marketing e formas de pressão até subliminares para que as pessoas se entreguem ao consumo desenfreado;

- e, para aqueles que já não podem comprar por falta de condições financeiras, traz novas formas de usar o que se tem, mesmo que os itens tenham sido recebidos através de doação, e mesmo vontade de  organizar seu ambiente.

Enfim, nenhuma delas veio para o desafio nem criou blogs a respeito com o intuito de afrontar as pessoas de baixa renda ou demonstrar o quanto possuem. Pelo contrário, nos textos escritos há referências à necessidade de fazer circular o que não é mais útil, reciclar, doar e também praticar a caridade, seja com bens materiais ou com dedicação de seu tempo.

As dicas de organização, presentes em alguns destes sites, servem às pessoas de todas as classes sociais, pois todo ser humano tem em casa diversos "buracos negros" com roupas amontoadas e por vezes escondendo peças que podem muito bem ser utilizadas, além de itens sem condições de uso.

Já andei muito em favelas, convivendo com pessoas realmente pobres materialmente falando, em alguns barracos encontrei uma organização impecável e uma limpeza invejável. Em outras casas, muitas coisas atiradas, muito lixo e muito tesouro escondido sem que as pessoas se apercebam.

Muitas pessoas que se consideram miseráveis, e aí fica por conta delas o que querem achar da vida, tem locais simples para residir que poderiam ser melhor aproveitados, desde que limpos e organizados. Concordo que falta orientação, mas mesmo esta eu vi recusada em algumas oportunidades, talvez motivada tal recusa pela própria desesperança em relação ao presente e futuro.

Em algumas moradias, feitas de resto de madeira e papelão, já entrei e fiquei realmente emocionada. Tem uma cozinha que ainda quero fotografar: acima da pia e até o teto foi colocado o tecido "chitão", que deve custar R$ 4,50 o metro, colocados alguns pregos e expostas as panelas limpas até demais que pareciam espelhos. Já outra casa, apesar de extremamente simples, tinha na mesa uma alva toalha branca e panos de prato em cima do fogão que pareciam nunca ter sido usados.

Isto demonstra claramente que pessoas de baixa renda, com senso de organização e preocupadas com higiene, mesmo sem condições financeiras, possuem idéias para um viver melhor, e estas podem ser aplicadas tanto no ambiente em que vivem, quanto na forma como se vestem. Sim, é possível se vestir bem com doações, desde que os itens sejam mantidos limpos.

Muito estranho como o ser humano tem a mania de criticar todas as situações novas que surgem, mesmo sem conhecê-las em profundidade e sem saber o que move as pessoas para determinadas ações, intenções e projetos. Espero ter ajudado um pouco com este texto a esclarecer o que realmente está se passando.

Para concluir, o "ano sem compras" e suas diversas variações serve de exemplo para todas as pessoas que queiram um viver melhor, buscam um consumo consciente ou se preocupam com a preservação do meio ambiente, independentemente de aderirem ou não ao desafio. Certo que, mesmo continuando o consumo sem restrições, podem utilizar a experiência das pessoas que não estão comprando, mesmo que seja no aspecto de organizar seu ambiente.

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