25/08/2012 06h44
- Atualizado em
25/08/2012 07h06
Obsolescência programada: é possível identificar e se proteger?
Pouca durabilidade dos produtos e lançamento frequente de modelos estão entre as práticas da indústria encontradas no mercado nacional

Na contramão das iniciativas de consumo sustentável, o mercado parece
desenvolver novas – e eficazes – estratégias para estimular ainda mais
as aquisições por impulsão, ou compras mais frequentes. Fazendo coro às
ações de marketing, a chamada obsolescência programada (do inglês planned obsolescence)
também dá o seu empurrãozinho para motivar o consumidor a sacar mais
algum objeto das prateleiras do comércio. A baixa durabilidade dos
produtos e o apelo dos lançamentos constantes caracterizariam essa
tendência.
Ainda que figure hoje entre nós, a prática está longe de ser algum novo
lançamento, e data da década de 20. Tudo teria começado com a indústria
de lâmpadas. Que, na opinião dos empresários, duravam demais. E não
demorou para que surgissem no mercado modelos menos eficientes, para
fomentar o consumo. Prática que logo se estendeu às linhas de
eletrodomésticos e eletroeletrônicos. O argumento para afastar a
especulação de uma teoria da conspiração seria: por que a indústria
estaria desenvolvendo produtos menos duráveis, quando a sofisticação
tecnológica deveria promover o movimento contrário?
Parte das respostas pode ser encontrada no documentário “The Light Bulb Conspiracy”
(A conspiração da lâmpada, em inglês), da cineasta Cosima Dannoritzer,
que se propõe a questionar a prática da indústria de determinar uma vida
útil curta para seus produtos com o objetivo de vender mais, em
especial na indústria da tecnologia. No filme, a cineasta defende a
obsolescência programada na forma tecnológica pura e também na forma
psicológica, em que o consumidor voluntariamente substitui algo que
ainda funciona só porque quer ter o último modelo.
O conceito, que teria surgido entre as empresas como algo obscuro,
torna-se cada vez mais público. A justificativa de que os produtos menos
resistentes seriam também de menor custo e mais acessíveis parece não
soar muito convincente aos especialistas. “O que existe hoje é uma
cultura de objetos com pouca vida útil, aliada ao desejo das pessoas de
terem sempre o último modelo de celulares, tablets, notebooks”, sintetiza João Paulo Amaral, pesquisador do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Com isso, a entidade coleciona reclamações de produtos defeituosos,
otimizadas pela falta de assistência técnica e de reposição de peças,
além da incompatibilidade com modelos anteriores e acessórios. “Com o
volume e a velocidade de lançamentos, mesmo a mão de obra especializada
não consegue acompanhar a demanda e não há disponibilidade de peças no
mercado”, completa Amaral.
Para o pesquisador, outra evidência da prática da obsolescência
programada seriam os lançamentos de modelos de produtos muito similares e
em pequenos intervalos de tempo. “Com certeza a indústria já dominava
há muito tempo a tecnologia para o desenvolvimento de produtos que só
hoje encontramos no mercado, nos forçando a consumir versões já
obsoletas de pendrives e celulares, por exemplo”, diz o pesquisador.
Amaral alerta para o dano que esta prática causa ao meio ambiente,
gerando um volume cada vez maior de lixo eletroeletrônico, em desalinho
com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O problema exigiria a
implantação de logística reversa das indústrias, condicionando a
produção e a montagem dos produtos em função do descarte.
A insatisfação com produtos foi a terceira maior causa de atendimentos
do Idec no ano passado, somando 14,42% das reclamações, perdendo apenas
para as insatisfações com serviços financeiros e de planos de saúde. A
entidade registrou 5,2 mil orientações sobre problemas de consumo.
Garantia e trocas estão entre as principais dúvidas e reclamações. “A
forma que o consumidor tem para se proteger é estar atento aos seus
direitos. Na entidade, podemos informar sobre prazos de validade e
garantias”, conclui.

Na opinião do diretor executivo da Associação Brasileira de
Organizações Não-Governamentais (Abong), Ivo Lesbaupin, a consciência e a
articulação social em relação ao problema da obsolescência programada
são os principais recursos para condicionar a indústria a uma mudança de
percepção e até mesmo a uma interferência legal do caso. “Chegamos
àquela situação em que consertar um determinado aparelho tem o mesmo
custo que comprar um novo. A forma que temos de nos opor a isso é exigir
melhor qualidade tecnológica dos produtos, a possibilidade de reparos e
que as peças possam ser utilizadas de alguma forma após o desmonte dos
aparelhos”, enumera.
Outra alternativa apontada por Lesbaupin seria o cumprimento dos prazos
de garantia, com a exigência da troca das mercadorias em casos de
defeito, e não o reparo gratuito pela assistência técnica. “É preciso
jogar essa carga sobre os fabricantes. Se a indústria fosse obrigada a
fornecer um novo produto a cada caso de peça defeituosa, a preocupação
com a qualidade tecnológica certamente aumentaria”, acredita.
O diretor da Abong não está sozinho quando pensa que uma campanha de
sensibilização despertaria o interesse de muitos consumidores. A
obsolescência programada também esteve em pauta no blog Hora de Mudar,
da juíza Ziula Sbroglio, dedicado ao consumo consciente. Desde julho do
ano passado, Ziula se impôs o desafio de “frear todo e qualquer consumo
de item não-essencial ou supérfluo”, e já entra no que ela mesma chama
de “segundo ano sem compras de desnecessários e supérfluos”.
Em meio a muitos relatos, a blogueira conta que um dos seus filhos
sugeriu a compra de uma televisão com tecnologia 3D, se propondo
inclusive a pagar metade do custo do aparelho. Fiel ao próprio desafio,
ela teria argumentado que a aquisição não se enquadrava como item
necessário ou essencial. “Não compramos. E quinze dias depois ele
lembrou que a televisão não está fazendo a mínima falta.”
retirado daqui
Bah, está famosa!! rs
ResponderExcluirParabéns!
É bom divulgarem bastante essas barbaridades que viraram padrão em relação ao consumo.
Eu acho que o que falta é educação ao consumidor, com isso os fabricantes teriam que se adequar e dai sim poderia ocorrer o equilíbrio (consumo/meio-ambiente/social/econômico).
Mas não acontece isso, muito pelo contrário, em cada propaganda querem nos pegar de um jeito, seja por reduções das quais a maioria sequer sabe do que se trata, seja por produtos semelhantes a outros bem caros, o que faz a pessoa achar que vai fazer um bom negócio, enfim, quando vejo essas propagandas sinto que querem fazer minhas "orelhas crescerem"...kk
Ontem estava lendo notícias em um portal, assim que ao atualizar a página um “pop-up” abriu, divulgando um celular exatamente igual a um famoso que o original custa em torno de 2 mil reais, aquele custava módicos 199,90. Sabe quantas pessoas compraram naquele momento que vi? 329 pessoas. O que dá ao site mais de 65 mil reais só nessa venda.
Fui ver no já conhecido reclame aqui o que falavam do tal site. 4.079 Reclamações, dentre as mais diversas, sendo que sempre para produtos “tecnológicos”.
Isso é ruim pois geralmente a qualidade é tão ruim que logo é descartado. E sem nenhuma preocupação e embora existam coletas em alguns pontos, é lixo igual e sabe-se lá onde vai parar.
Mas falando de coisas “boas” também, cada ano lançam um modelo novo que parece que o antigo não tem um ano, mas 10. Nisso se conseguirem fazer com que os fabricantes obriguem a manter atualizações sem erros, seria de grande valia.
Adriana, é muito importante esse movimento todo das pessoas no sentido de pensar em consumo consciente ou mesmo em menos consumo, pois nao tenho dúvidas de que nosso planeta não suporta mais tanto "destralhe" de coisas que poderiam até ser aproveitadas.
ResponderExcluirA propaganda é cruel, mas precisamos estar atentas para não cair nesses apelos.