sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Quem vai ficar com ele???

Quando casei em 1983 meu avô perguntou se eu queria um jogo de malas ou um faqueiro e escolhi o faqueiro. Um faqueiro lindo, de aço inox, com 130 peças e caixa de madeira.



Na separação consegui ficar com esse faqueiro e ele sempre foi usado em ocasiões especiais, normalmente em jantares com muitos convidados, colocados os talheres em uma peça linda da Riva com base em acrílico, como esse da foto.

Quando escrevi o texto "Excesso e consequências!" fiquei pensando nas crianças comendo sobremesa com colheres de sopa e no faqueiro guardado para jantares que não mais realizo ou mesmo que acontecem em raras ocasiões. Está tudo parecendo sem lógica!

Entretanto, se colocar o faqueiro no uso diário certamente ele não ficará mais com a cara de novo que tem, mas nem eu tenho a mesma cara de nova de quando ganhei esse presente.

Por ocasião dos jantares, terminada a festa, eu nem esperava pela pessoa da limpeza, arrumava uma bacia, colocava os talheres de molho em água com detergente, lavava com uma esponja que não tivesse aquela parte verde abrasiva e já colocava para secar, evitando que ficassem manchados.

Bem sei a razão de tantos cuidados! Ainda adoro meu avô e, embora ele já tenha partido faz algum tempo, ainda sinto ele perto de mim. Sim, ele era humano e cheio de defeitos, mas aquele que não tiver defeitos atire a primeira pedra!

Meu avô foi meu mentor, conversava comigo horas e horas sobre os mais diversos assuntos. Ele era maçon, médico por mais de cinquenta anos, umbandista e se comunicava com uma pessoa que segundo ele era a reencarnação de Jesus e estava sendo preparado em algum lugar do mundo para se revelar ao mundo já nem lembro quando. Todo dia ou em determinados dias da semana ou mês, ele e um grupo de pessoa que tinham a mesma crença, se fechavam em um quarto e se comunicavam com esse ser que, segundo ele, era Jesus. Enfim, ele me fez acreditar muito cedo em extraterrestres, ponderando que eu era muito petulante (nem lembro se era esse o termo) em acreditar que somente na Terra havia vida inteligente. Enfim, imaginem o quanto conversávamos.

Quando resolvi fazer concurso para a magistratura por razões inconfessáveis nesse momento, liguei para ele e falei que tinha muito serviço no escritório, advogava na época, e não tinha muito tempo para estudar. Ele, sem titubear, falou que eu não precisava estudar, pois tudo que eu precisava aprender já tinha visto na faculdade. E lá fui eu para os concursos, sem estudar profundamente, acendendo velas na cozinha antes de sair em forma de cruz, velas vermelhas e velas brancas. Após ser aprovada, ele pediu que eu acendesse, no meu altar, uma vela vermelha de sete dias para aquele que havia me ajudado no concurso.

Tem quem acredite, tem quem não acredite e tem quem reprove, mas o fato é que passar a responsabilidade para um ser que não podemos ver tira o peso da ansiedade e até um pouco da responsabilidade na hora de fazer as provas. Nós temos o conhecimento e muitas vezes ele fica bloqueado por expectativas, responsabilidades, sentimentos, sendo a forma aconselhada pelo meu avô uma maneira de tornar tudo mais fácil.

Será que colocar o faqueiro no uso diário seria uma homenagem a ele? Ele estaria ainda mais presente do que está na minha vida? Ele aprovaria tirar o faqueiro do cantinho empoeirado onde está?

E, acaso a decisão seja deixar tudo como está, quem ficará com ele, o faqueiro?

Termino esse post chorando, chorando de saudades da presença física daquele que tanto me auxiliou e tanto me ensinou. É assim mesmo, a vida é feita de presenças e também de ausências, ausências que doem no coração!

A intenção quando comecei a escrever era só uma reflexão sobre um objeto e olha no que deu!

7 comentários:

  1. Nunca entendi muito bem o fato das pessoas terem faqueiros que “amam” e usarem no dia a dia talheres porcarias, mas explico mais abaixo.

    No teu caso, não há como não mencionar que a escolha foi a correta. Já imaginou ter escolhido o “conjunto de malas” ? Onde elas estariam agora? Em uso provavelmente não, até porque as malas da época não tinham rodinha, era no braço mesmo né? Já o faqueiro não fica com cara de antigamente. Ao menos as peças. E ainda é uma coisa que se passa de geração para geração, quer ela repasse ou use, mas as malas “sem rodinhas” seria uma legítima “mala”, se passado de geração para geração...

    Bom, voltando à minha insurgência contra o vislumbre que o faqueiro provoca nas pessoas, exemplifico usando minha mãe e algumas irmãs dela, diante de um faqueiro parecem que estão diante de um iPhone 4S branco com Siri, com muito custo consegui convencer a mãe a atacar um dos faqueiros que ela ganhou.

    Quando compramos o apto em Poa, as “louças” e “talheres” eram dos mais baratos possíveis (nessa época não sabia ainda que o barato saia caro), até para compensar todo investimento e ser um apartamento de apenas dois estudantes universitários. Não precisava de luxo e tão pouco faríamos jantares.

    Só que as porcarias que compramos não durou 2 anos acho. Assim que falamos pra mãe e ela disse para comprarmos novos, mas dai falei “e aquelas caixas que tu tem?”, ao que respondia que ganhou no casamento e ia me dar quando eu casasse. Como isso é uma coisa que sempre me assustou (aliás estou há 9 anos com a mesma pessoa sem casar), disse pra ela que então imaginasse que casei e trocássemos as porcarias por talheres decentes. Adiantou para uma das caixas, ela abriu e trocou os dela e nos deu o resto para poa, assim que desde então nunca mais problemas com talheres. Só que são usados no dia a dia, e , respire, são guardados numa gaveta comum e nenhum cuidado especial. :-)

    Tinha um outro faqueiro, objeto de irem tias lá só olhar o tal faqueiro. Era um que meu pai tinha recebido para pagamento de uma dívida de alguém que devia a ele, para ele não ficar decepcionado deixei lá como que aceitado, mas ele faleceu já tem uns anos e a mãe perguntou o que faria com o “faqueiro” que ele me deu, disse para oferecer para alguma tia que tinha “amado” pois eu não queria de jeito nenhum, só o valor que ele por ora parecia ter. Funcionou, uma tia pagou um valor bem alto por ele, quer dizer, eu achava que era alto, pois segundo a mãe o tal faqueiro depois foi para outra tia que pagou 7,5 mil por ele. O que eu achava que era alto não deu nem a metade disso, droga, não sirvo para essas coisas! Kkk

    Bem, em resumo, de 3 faqueiros, um atacado para usar, outro vendido, outro sim está ainda guardado e quando necessário vamos atacar e usar novamente.

    Entendo o zelo que tens com o faqueiro que ganhaste do teu avô, mas o que não entendo, embora saiba é que comum, é de guardar para algum jantar especial. Pra mim, grossa que só eu, sempre achei melhor usar. Seria também uma forma de um presente que ele deu estar sendo usando por outras gerações da família. E entendo que isso é mais especial que usar em “ocasião especial."

    Se optar por guardares, provavelmente dará para tua filha quando ela casar (ou ela vai querer usar antes como eu fiz), pois reza a lenda que isso é para mulher, muito embora felizmente a situação está melhorando e cada vez mais os homens jovens estão cozinhando, até fazendo questão disso. Lembro da empregada que tínhamos que a mãe pagava um curso de contabilidade, para ela ter um emprego melhor depois, um dia ela chegou e disse que não precisava mais pagar pois tinha que cozinhar para o marido. Talvez daí meu trauma com casamento. Em todo caso, mesmo com todas essas mudanças e homens cozinhando, o faqueiro ainda está mais ligado à mulher, mas com bem menos força que antes.

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    1. Adriana, parando para pensar, também não entendo o faqueiro guardado :-)

      Desconfio que minha filha não terá a mesma história para o faqueiro, não é mesmo? Mesmo que eu lhe dê quando casar, será tudo mais simples: - minha mãe ganhou esse faqueiro do avô dela quando ela casou e "ponto"

      Tenho que achar um jeito de usar mesmo!

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  2. Que texto lindo, que relação linda entre você e seu avô! Enquanto lia, lembrei muito da minha vó.
    Acho que entendo bem o que você sente em relação ao faqueiro. Minha vó também tinha os talheres e louças e toalhas de festa, e ela também guardava tudo o que ganhava de pessoas queridas. Ela acumulou muita coisa! Quando faleceu, fiquei com alguns itens, roupas, louças, decoração, fora o que ela já tinha me dado antes... No começo, tinha pena de usar, alguns eram daqueles que ela só usava em festas. E tinha presentes que ela havia dado, como roupas que não serviam mais, que eu não usava mas não conseguia desapegar. Deixei assim por uns meses, enquanto o apego era mais forte. Aos poucos, comecei a usar tudo no dia a dia. Acredito que é uma forma de tê-la perto o tempo todo! Tirei fotos dos itens que não usava e doei - mantenho a lembrança, evitando o acúmulo que tanto tem me incomodado.
    Seja qual for a decisão que você tenha em relação ao faqueiro, aposto que seu vô apoiaria! :) Beijo!

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    1. Quando paro para pensar descubri lindas relações com minha família, por outro lado também sofro muito com a ausência deles!!!

      Procuro não pensar muito, assim sofro menos, mas quando menos espero vem uma lembrança dessas e tudo desaba.

      Penso sinceramente em colocar o faqueiro em uso, falta um pouco de coragem ainda.

      Beijos

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    2. Retificando... descobri... rs

      Quando encontrarem erros de português ou digitação, por favor, avisem!!!

      Grata

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  3. Ziula, eu sou espírita kardecista e, embora não compartilhe algumas crenças do seu avô, acredito que a vida continua e que estamos sempre evoluindo. Eu penso que seria uma grande homenagem ao seu avô se você usasse o faqueiro e acredito que, de acordo com as crenças dele, também seria. Acredito, inclusive, que ele saberá que você está usando o faqueiro e ficará muito contente por causa disso.

    Eu estou planejando comprar um faqueiro porque, como não me casei oficialmente, não tive chá de panela ou coisa do tipo, fui montando a casa como podia (minhas coisas são muito simples).

    Um grande abraço!

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    1. Marina, também estudo muito para ser espírita kardecista, então muitos rituais sequer presto atenção atualmente, embora naquela época (do meu avô e algum tempo depois) fossem muito importantes para mim.

      Tenho certeza de que ele continua a me inspirar hoje em dia.

      Abraços

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