terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Saudade e experiências

Senti uma saudade imensa de experiências passadas e que com certeza me fizeram a pessoa em transformação que sou hoje.

Acho que foi o vestido de noiva o culpado pelas lembranças.

Casei e por força das circustâncias morávamos em uma casa que era um apartamento dividido ao meio e sem área de serviço. Tanque instalado no banheiro. Renato nasceu, eu tinha 17 anos. Um dia eu e o pai tivemos a feliz idéia de dar banho no tanque, o pequeno escorregou e consegui pegar pelas perninhas. Fiquei chacoalhando para ele desafogar. Exagero! nem estava afogado e nem sei se tinha tomado água. Bem, até hoje ele tem pavor de barco, navio, mar.

Na realidade a lembrança foi inicialmente de outras dificuldades que passei e para as quais utilizei algumas habilidades aprendidas nas aulas de educação para o lar. Sim, havia essa disciplina onde aprendíamos a cuidar da casa e outras prendas domésticas.

Cursando a faculdade de direito eu precisava encontrar uma fonte de renda minha. Fazia bombons, torta fria de maionese com frango ou atum e vendia. Fui sacoleira vendendo roupas com rendas de Fortaleza e depois roupas compradas em Santa Catarina. Também vendi Avon e Natura. Decorava cadernos de receitas com feltro e juta também para vender.

Tranquei a faculdade e fui para São Miguel do Oeste, fronteira com a Argentina, e lá fazia comidas congeladas para vender, principalmente massas. Mães vinham comprar e traziam a caixa de isopor para que pudessem mandar para os filhos que estudavam fora. Tive também um restaurante e além de servir jantar fazia chá para Rotary e Lions.

Passado um tempo fui aprovada no vestitular para administração e consegui um estágio em um banco. Meu chefe xingava toda vez que eu encontrava o nome de alguém negativado e não era para encontrar. Cansei daquilo. Precisava cumprir quatro horas por dia e cumpria sete horas. Enfim, essa situação fez com que decidíssimos que eu voltaria para o Rio Grande do Sul terminar a faculdade.

Meu marido resolveu que poderia fazer a faculdade, mas não poderia morar em Passo Fundo, deveria morar em Lagoa Vermelha e dois anos de faculdade seriam feitos em apenas um. Saía de São Miguel do Oeste-SC no domingo à noite, chegava pela manhã em Passo Fundo, assistia aula, meio-dia pegava o ônibus para Lagoa Vermelha e chegava lá uma da tarde, cinco horas da tarde pegava o ônibus para Passo Fundo e voltava à uma da manhã para Lagoa Vermelha, no outro dia seis horas da manhã pegava ônibus para Passo Fundo e assim sucessivamente até sexta-feira à noite quando no final da aula pegava ônibus para São Miguel do Oeste chegando no sábado de manhã. Domingo começava tudo de novo.

Aproximadamente 2.900 quilômetros semanais, todas as semanas, durante dois semestres e meu filho pequeno em São Miguel do Oeste sendo cuidado pelo pai. Nessa época fazia blusas de tricô para vender.

Formatura. Voltei para São Miguel do Oeste e descobri que não sabia coisa nenhuma. Trabalhei em um escritório que me foi emprestado e depois em um escritório de um político. Não estava satisfeita.

Desta feita com o Renato a tiracolo voltei para Lagoa Vermelha-RS trabalhar com um advogado trabalhista colega do meu pai. Aprendi muito. Um dia ele pegou um livro do Mozart Victor Russomano e disse que se eu soubesse todo aquele livro passaria no concurso para Juiz do Trabalho. Até hoje não li o livro todo. Fiquei seis meses. Dormia com o Renato no escritório da casa da minha mãe e havia ratos. Ele, pequeno, ficava muito assustado.

Passado esse período, retornei para São Miguel do Oeste e abri um escritório de advocacia. Em seguida passei em terceiro lugar no concurso para servidor do TRT. Havia duas vagas. As duas pessoas assumiram apesar de todas minhas rezas. Continuei advogando. Tempos depois fui chamada para assumir em uma cidade no litoral e uma servidora falou que com o volume de serviço que eu tinha não compensaria e não assumi.

Com a experiência adquirida na advocacia consegui ser aprovada no concurso para a magistratura quase cinco anos depois praticamente sem estudar especificamente para o concurso.

Para ver como são as coisas. Se acontecesse o que eu quis inicialmente - assumir como servidora - haveria uma grande chance de não ter o conhecimento necessário para passar no concurso. Outro ponto interessante é que todos os percalços e dificuldades foram essenciais para deslanchar na profissão.

O importante é não desistir! O importante foi persistir e jamais ficar acomodada!




9 comentários:

  1. Obrigada por expor sua história de vida, por ser exemplo de persistência!
    Vc incentiva e encoraja!
    Mesmo sem conhecer pessoalmente, mesmo de longe, tenho aprendido muitooooo com vc!!!

    Obrigada pela força sempre!!!

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  2. Depois a gente gosta deuma pessoa e não sabe porquê.

    Um dia ela conta a história da vida dela e a gente descobre porque...

    Todo o direito em exigir Jarras de Inox! hahah (lembra no aniversário do Pedro? rsrsrs)

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    1. Valérie, tenho certeza que na época você pensou que estava lidando com uma madame frívola... rs... e depois da festa que você organizou e fez eu jamais poderia deixar servir qualquer coisa em garrafas, não é mesmo???

      Lembrando sempre que a história daquela festa é quase inconfessável, somente em particular mesmo!!!

      Beijos

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  3. Olá, estou sempre lendo teu blog. Já me ajudou muito a encontrar o caminho que quero pra mim, de uma vida mais simples, sem excessos e até a controlar o orçamento.
    Já te admirava muito pelo que acompanho no blog e agora passei a admirar ainda mais pelo sacrifício que foi fazer a tua faculdade. Moro em Vacaria, pertinho de Lagoa e adorei ler um pouquinho mais da tua história. Beijos e ainda mais sucesso.

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    1. Zilda, bom dia!!! Adoro o Rio Grande e sinto uma inveja branca por morares em Vacaria tão pertinho da minha cidade... beijos

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  4. Nessa disciplina de “educação para o lar” tinha homens e mulheres ou era só para mulheres?

    Será que é por isso que antes as pessoas eram mais prendadas?

    Se eu pegasse essa época talvez fosse mais maleável. Aprendi ligar um fogão com 19/20 anos de idade. A mãe tinha ido acompanhar meu irmão no vestibular da UFRGS e eu tinha ficado com meu pai e os cachorros. A empregada tinha deixado tudo pronto e disse que era “só” aquecer a comida.

    Pois bem, o tal “só” foi uma novela mexicana. Mexia todos botões e nenhum funcionava. Não, eu realmente não sabia que tinha que apertar um botão e mexer o outro simultaneamente. Tanto que, naquele dia, conseguimos ligar achando fósforo e dai obviamente meu pai teve que ligar com fósforo, pois eu bem capaz que ia fazer isso, morro de medo de fósforo e isqueiros. Bem, nos dias que seguiram fomos jantar fora. Era até engraçado, ele nunca, em absoluto saia pra jantar quando estavam todos, já só comigo, ou era isso ou passava fome, então preferiu se alimentar.

    O comodismo talvez tenha me feito um pouco mal. Sou bem menos atualmente porém longe de qualquer “prenda”.

    Esses dias um colega da época do cursinho pré-vestibular me chamou no bate-papo do facebook dizendo que tinha saudades do nosso tempo de cursinho e primeiro ano da faculdade e perguntou se eu tinha casado. Naquela época eu arrastaria um caminhão por aqueles olhos azuis dele, mas sai de lá pois não aguentava vê-lo namorando uma colega. Na época era tão insuportável que fiz minha transferência da faculdade, hoje, passado muitos anos, já 10 anos com outra pessoa, lembro com saudades daquela época, embora sem sentimento algum de interesse por ele, só que o “desgraçado” continua bonito.

    Do trabalho tenho saudades das aventuras com um amigo, não sabíamos nada e tínhamos que demonstrar conhecimento. Hoje num escritório onde a pressão é 101%, brinco com meus colegas dizendo que é bom essa emoção. Sem contar que tudo é pago e "mastigado", antes era a gente se virar, pagar do próprio bolso até receber, enfim, embora hoje tenha emoção, antes era mais que emoção!

    Tempos atrás vi que uma guria que trabalhava com o chefe chato era procuradora do trabalho, e eu, na tentativa de ver quanto tempo ainda teria que aguentar, perguntei pra ele sobre ela, que já prevendo meu interesse disse: “ela é uma traíra, mudou de time, joga no time adversário”. Ia dizer que eu também queria mudar de time mas no fundo ele já sabe.

    Se bem se se me chamassem no TRT acho que não ia ouvir servidor/a nenhum/a , agora se não, na militância se aprende muita coisa mesmo.

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    1. Por incrível que pareça os meninos tinham que participar das aulas de educação para o lar, fazer caderno de receitas, bordar, cozinhar... rs

      Meus filhos cozinham desde cedo. O Pedro desde os quatro anos e dizia que eu era a única mãe que deixava mexer com faca.... rs

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  5. Lendo este post e os outros, me dá ânimo...fiquei realmente impressionada q nao estudou especificamente para o concurso!!
    Sempre bom ler, sempre tem algo que faz bem aqui no blog
    Bjs

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