terça-feira, 18 de junho de 2013

Angústia...

- Mãe, levanta dessa cama, você vai acabar ficando depressiva. Isso dá depressão, ficar aí deitada e chorando, tem que levantar e fazer um monte de coisas!!!

Ouvi esse conselho do Pedro Henrique às 18h30 e tinha deitado às 18h00.

Acordei às 05h30, arrumei tudo, dei café para as crianças, levei o Pedro Henrique para a escola e fui para Cornélio ver meu amigo. Chegando no quarto levei um susto, a cama estava vazia. Quase sem sentir o chão fui até a enfermagem e a voz já não saía direito. Onde ele está? Acabou de ser transferido para a UTI. Procuro a UTI e sento em uma das cadeiras que tinha por ali, sem saber o que pensar, sem saber com quem falar, só eu ali e as pessoas passando indiferentes, cada qual cuidando de seus afazeres, parecia que só eu chorava no mundo.

De repente uma moça aparece e pergunta o que está acontecendo, respondo do jeito que posso e ela diz que vai tentar com que eu entre na UTI. A moça demora e um médico, conhecido meu, vem perguntar o que houve. Respondo já sussurando, a voz faltava. Finalmente consigo entrar. Meu amigo, meu grande amigo, de olhos abertos, mas parecendo inconsciente, sem saber o que se passa à sua volta e nem mesmo no Brasil, no Brasil pelo qual tanto lutou.

Esse homem lutou a vida toda por seus ideais de liberdade. Atuou politicamente em 1964, na repressão à ditadura, diretas já e ele estava lá, na redemocratização, no impeachment do Collor. Em todos esses movimentos ele esteve lá, fazendo a diferença. Político sério, honesto (sim, honesto!), sincero e batalhador, muitos mandatos lhe foram confiados pelo povo. Muitos dizem que ele é "louco". Louco? Não, é lúcido em um mundo onde se vive de hipocrisia, é sincero e fiel às coisas que acredita, é solidário.

Ainda está lá, na UTI e eu aqui já sentindo a solidão da partida, pesarosa pelo fato de que ele talvez não saiba do movimento popular e apartidário que está ocorrendo em nosso País e pelo qual ansiou muito nos últimos anos, pois era uma voz quase solidária. Pesarosa pela grande perda emocional.

Lembro de ter dito para a Marina que estava com saudades dela. Ela estranhou, agora esclareço, estava com saudades dos escritos dela e essa madrugada ela nos brindou com mais um lindo texto que me deixou pensando.

Tenho filhos e não há sequer tempo para tratar da minha dor. Não há espaço para dizer "tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor". Eles simplesmente entendem, mas não querem ver a mãe naquele estado.

Fico com vontade de entrar naquele filme "Noites de Tormenta", assumir o papel da atriz principal e ficar atirada em um sofá até processar a dor, até que todas as lágrimas sequem e a consciência da continuidade da vida volte. Penso que nesses momentos vem a certeza da rapidez do tempo a consumir nossa existência e o medo toma conta.

Não, não fiquei deitada. Voltei do hospital, voltei para Londrina, fiz almoço, o Pedro Henrique tinha médico marcado, vamos ao médico, depois mandar fazer a homeopatia, fazer exame e chegamos em casa às 18h00. Depois desse horário, às 18h30, levantei e a vida continuou: roupas para lavar, almoço de amanhã que devo deixar pronto, auxílio nas tarefas escolares e muitas e muitas outras coisas. E eu só queria ficar deitada!!!

4 comentários:

  1. Sinto muito. Sinto muito pelo seu amigo. Mas a vida é assim, os vivos é que nos fazem segurar a onda, temos de cuidar deles. Se seu amigo partir mesmo, pode ter certeza que ele vai estar em um lugar muito bom. Força aí.

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    1. Obrigada pelas palavras, confesso que estou tentando ser forte, mas tem horas em que só queria sentar e chorar... vai passar, a saudade vai ficar, o amor vai permanecer, só que no momento dói muito.

      Beijos

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  2. Oi Ziula, tenho lido e acompanhado seus dias mais complicados, sempre faço uma prece em meu coração, um pensamento positivo por vc, hoje escrevo edeixo uma prece pelo seu amigo, mta luz, paz.
    Deus te abençoe, força menina.
    Bjs

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    1. Muito obrigada pela prece... obrigada pelas palavras... obrigada pela força... beijos

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