sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Minimalismo e voto de pobreza

Dia desses estava lendo uma reportagem sobre pessoas que optaram pelo minimalismo, fizeram disso sua filosofia de vida, todas se pautando pelo que consideram essencial. 

Claro, o necessário de um pode não ser o que o outro considera indispensável, cada qual tem sua realidade e suas necessidades.

Ao término da matéria havia espaço para comentários e foi aí que a coisa desandou. Muitos leitores mencionavam que é fácil ser minimalista quando já se tem tudo na vida, que queriam ver ser minimalista não tendo o essencial para viver e por aí afora. Nesse ponto é que a confusão se instaura, pois quem adere ao minimalismo não faz voto de pobreza,  não abre mão do que é necessário e inclusive não dispensa alguns supérfluos que lhe facilitam a vida.

É certo que as pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza não optaram por isso e nem mesmo as necessidades básicas conseguem atender, mas isso não é vida simples, é vida sofrida, é miséria, é falta de condições mínimas de sobrevivência e não é disso que trata o minimalismo.

Entendo o minimalismo como não manter tralhas acumuladas, fazer circular todos os itens ou pelo uso ou pela doação/venda/troca em relação àqueles que desavisadamente pensamos que precisávamos. Também é manter uma rotina que priorize a realização de tarefas essenciais rapidamente para que sobre tempo para outras atividades que tragam prazer. É realizar um trabalho que realmente nos traga satisfação, pois dessa forma estaremos felizes. É deixar de ter dívidas e poder desfrutar do valor que recebemos do nosso trabalho inteirinho no final do mês, sabendo exatamente quais são as despesas e o que podemos guardar para realizar sonhos, adquirir experiências e garantir o futuro.

Não passa pela minha cabeça, por exemplo, parcelar qualquer coisa deixando que os meses futuros se encarreguem de quitar. Preciso ter segurança de que reservei valores para tudo que penso fazer e, ao realizar o planejado, termino ali mesmo o pagamento.

Atividades domésticas? Quinze minutos aqui com o timer funcionando, quinze ali. Deixava para fazer de manhã, mas percebi que já acordava ligada no 220, então estou usando a técnica quando chego do trabalho e acordo bem mais tranquila, podendo sentar e planejar o dia, realizando atividades mais agradáveis que aquelas de lavar louça, roupa e limpar a casa. A sensação que tenho é de ter encerrado o dia com toda minha missão cumprida.

Deixei de me "recompensar" com compras após situações estressantes, realmente isso não é solução e sim problema por desequilibrar o orçamento e, no final das contas, não trazer prazer real algum.

E a recompensa? Está certo! Eu confesso, de vez em quando me consolo em alguma guloseima que não como normalmente, nada exagerado e nada muito constante, sendo que o prazer nessas horas é muito mais intenso e duradouro que uma blusa, sapato ou vestido.

Tenho em casa somente itens que uso diariamente, retiro tudo que não tem utilidade, mantenho os móveis essenciais com um certo espaço livre para as necessidades que vão surgindo.

Na medida do possível tenho me afastado de pessoas negativas e em relação àquelas que não posso realmente distanciar tenho mantido uma posição quase neutra, imagino uma redoma de vidro me protegendo da energia negativa que emanam. Sempre dá certo? Nem sempre, entretanto estou constantemente me exercitando e exercícios realizados com frequência sempre surte resultados.

Certa vez assisti um filme que começava com um senhor regando uma árvore seca e ele dizia para o menino que o acompanhava: se todos os dias, no mesmo horário, você fizer a mesma coisa isso mudará o mundo.

Impossível mudar o mundo como um todo, as pessoas e determinadas situações. Só posso mesmo mudar o meu mundo, a minha pessoa e tentar conviver com o "mundo externo" da maneira mais serena possível.

O que é minimalismo para você?


13 comentários:

  1. Eu acho que sei qual reportagem é essa, mas suponho que esse tipo de comentário possa aparecer em qualquer reportagem sobre o tema. Até um certo ponto eu entendo os comentários. Pode parecer muito fútil a gente falar de vida simples e minimalismo enquanto tem gente vivendo em situações de muita carência. Talvez as discussões fossem mais produtivas se muitos desses comentaristas levassem em conta que o ideal generalizado na nossa sociedade é ter muito dinheiro para poder consumir não só o básico para uma vida digna, mas principalmente supérfluos. Colocadas na situação de ter uma renda que permita adquirir itens supérfluos, a imensa maioria das pessoas começaria a consumir mais do que é necessário e aceitaria alegremente seguir no caminho do consumismo desenfreado.

    Se vamos falar de pobreza e riqueza, vamos falar de pobreza e riqueza, mas vamos falar direito. Muitas pessoas que fazem esse tipo de comentário crítico estão confortáveis em suas casas cheias de excessos mas adoram apontar o dedo para quem está tentando fazer alguma coisa diferente. Falam que os minimalistas deveriam viver uma vida quase ascética mas se dão o direito de desperdiçar uma série de recursos e fechar os olhos para as mazelas sociais de nosso país e do mundo simplesmente porque não atribuem a si mesmas o título de "minimalistas". São pessoas que gostam de apontar para as mínimas contradições alheias mas não são muito boas em identificar as suas próprias.

    Todo mundo tem o direito de pensar o que quiser e de externar essa opinião. Eu não topo pessoas grosseiras, mas tenho me esforçado para consegui ouvir e lidar bem com pessoas diretas. Até pouco tempo atrás eu era péssima nisso; hoje em dia melhorei um pouco. Um pouco. O que eu acho, Ziula, é que as coisas bacanas sobrevivem ao escrutínio. E acho legal esse debate rolar se depois dele ainda existir clima para as pessoas que discordam irem tomar um café juntas. Sei que é estranho, mas o meu critério pra saber se um debate é saudável ou não é esse do cafezinho; parto do pressuposto que só pessoas que se respeitam conseguem tomar o café juntas depois apesar da diferença de opiniões.

    Bjo grande

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    1. Marina, algumas pessoas alteram drasticamente o padrão de vida quando passam a ganhar mais gastando mais e sem qualquer preocupação com o futuro.

      Diariamente convivo com pessoas que acham estranho o fato de que cumpro, em qualquer circunstância, com minha intenção de pagamento à vista, até já falei isso por aqui, mas se não posso fazer à vista simplesmente deixo de adquirir a dita coisa, mesmo que necessária. É claro que com coisas maiores, tipo o apartamento, precisei o parcelamento "na planta" e optei por isso simplesmente pela ausência de juros e correção pelo INCC.

      Sei que isso é uma opção minha e outras pessoas preferem por "n" razões fazer isso e esse fato torna as conversas produtivas e permitem a mudança.

      Procuro manter uma conversa sem forçar minha opinião ou achar que estou certo, aliás muitas vezes não estou certa ou estou tendo uma visão distorcida, entretanto tudo tem que ser em um clima de civilidade. Posso conviver com quem pensa diferente desde que a pessoa tenha o mínimo de bom senso para manter a conversa amena e expor seu ponto de vista com educação.

      Beijos

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  2. Meu conceito de minimalismo é bem próximo ao seu. Usar e fazer circular o que já temos em casa. Trazer cada vez menos tralhas para a nossa vida. Doar é uma delícia, dá uma sensação boa de leveza, nos dois sentidos.
    Mantenho muitos ítens (inúteis) em casa, na cozinha principalmente, para não correr o risco de comprar similares. Comigo a coisa funciona devagar e constante.
    Tenho evitado adquirir cremes, roupas, sapatos, bijus, etc. Todo artigo que possa ser substituído pelo que já tenho em casa.

    Há dias ando com vontade de comer cookies com gotas de chocolate.
    Com a mente voltada para o "não comprar supérfluos", acabo esquecendo. Terei que pedir de presente para o maridão.

    Esta semana, quando fui à feira livre, me flagrei com as mãos no bolso. Dizia não a quase tudo. Acho que se eu estivesse sozinha, voltaria para casa com uma ou duas coisinhas.

    Antes de dormir, me alimento de novas ideias. Abro o Google, procuro um artesanato bem bacana, imprimo o molde e anoto o passo-a-passo. Vou dormir pensando em fazê-lo no dia seguinte. Com a imagem daquela peça inédita, não penso em outras formas de gastos.

    Minimalismo, cada um tem a sua receita.

    Bjs

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    1. Zilda, esses itens inúteis na cozinha consegui me livrar e até postei por aqui, peguei todo conteúdo das gavetas e coloquei em uma caixa, durante trinta dias fui retirando somente o que usava, após esse período o que sobrou foi uma parte para a churrasqueira e o restante descartado. Nunca precisei do que retirei e ficou muito mais fácil lidar com o que restou.

      É ótima esse leveza que o minimalismo traz, penso que chegará em um ponto onde a preocupação será quase inexistente pelo menos aquela que me atormentou durante algum tempo com dinheiro e organização.

      Beijos

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  3. Ola Ziula, acho que o problema e de interpretacao. Concordo plenamente que pobreza e minimalismo sao coisas diferentes. Pobre tambem pode ter muita tralha que nao usa em casa. Minimalismo tem a ver com esolhas, e com aprendizado. Cada pessoa pode viver da maneira que quiser, independente de ser rico ou pobre. Claro que o pobre tem menos oportunidades e mais dificuldades mas nao e isso que se trata o minimalismo, certo?

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    1. Yara, é um prazer tê-la por aqui. Essa coisa de tralhas é preocupante, já descartei muita tralha e vi pessoas levarem para casa mesmo não tendo qualquer utilidade, enfim cada qual com seu conceito e sua disposição em guardar coisas.

      Beijos

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  4. Pra mim é ser simples sem ser simplista.

    Não sei se a reportagem é a mesma que já vi, acho que não pois faz um bom período que não leio a respeito, mas um tempo atrás vi uma que achei meio exagerada. Só que é aquela coisa, cada um tem o seu modo de encarar, mas obviamente nada tem a ver com pobreza, embora não raras vezes se falamos algo de desentulhar tal lugar, vender tal coisa , não desejar tudo de mais saltitante nas vitrines , até amigos vão nos dar o diagnóstico da pobreza. Mas é saber sair pela tangente até para respeitar quem pensa diferente, assim talvez vire moda e eles pensem em respeitar quando não entramos em alguma"onda" também.

    Nós somos educados para o consumo, por isso qualquer coisa que questione intigra. Mesmo que seja um simples consumir melhor, com melhor aproveitamento dos nossos esforços. Parece que o normal é consumir cegamente e depois reclamar. Daí junta uma rodinha com todos rindo. Falou em pensar melhor, pesquisar? O atestado de chato já fica pronto. Falou em vender o anterior? Vira pobreza bem rapidinho.

    É não ligar. Se estiver ruim vamos mudar não é? Mas eu acho legal não ter entulho de tudo que é coisa, até de contas por entulhos adquiridos. Só que não abro mão de várias coisas que talvez muita gente não ache fundamental.

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    1. Adriana, nessas reportagens sobre minimalismo publicadas em sites (não em blogs sobre isso, porque daí as pessoas nem acessam) sempre encontramos comentários nesse sentido.

      É complicado você sair do "agir comum", parece que as pessoas te olham diferente, você passa a ser assemelhada a um ET.

      E ainda existe aquele máxima: aconteceu um problema, console-se em compras!!! É um verdadeiro absurdo!!!

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  5. Minha ideia de minimalismo é semelhante a sua. Estou procurando ter apenas o que uso e realmente preciso. Não penso que sou minimalista por isso, apenas quero ter uma vida mais prática e menos coisas para cuidar. Infelizmente o ter ainda continua sendo mais importante do que o ser, por isso essa falta de entendimento e aceitação das pessoas. Normal!!

    Beijos,
    Josy Santos
    http://muraldajosy.blogspot.com.br

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    1. Josy, ainda preciso fazer um destralhe completo, sem dó... já fiz um grande, mas pensei que ainda usaria determinadas coisas... estou elaborando um projeto e logo coloco por aqui.

      Beijos

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  6. Tenho muito interesse nesse assunto. Minha alma tem forte inclinação para o minimalismo. O problema é preciso conseguir conciliar essa postura com minha eterna luta pra ser mais vaidosa. Na minha cabeça, são duas coisas que não combinam nem um pouco rs. Por que é tão dificil para mim conseguir o equilíbrio? Bjo e obrigada pelo espaço.

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  7. Tenho muito interesse nesse assunto. Minha alma tem forte inclinação para o minimalismo. O problema é preciso conseguir conciliar essa postura com minha eterna luta pra ser mais vaidosa. Na minha cabeça, são duas coisas que não combinam nem um pouco rs. Por que é tão dificil para mim conseguir o equilíbrio? Bjo e obrigada pelo espaço.

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